Diário de bordo? Talvez, ou maybe not!

O R. enquanto cá esteve viu-me várias vezes a escrever no meu caderno ou diretamente no blog e uma vez perguntou-me: ‘Mas estás a fazer um diário de bordo?’ 

Eu nunca iria conseguir fazer um diário de bordo, porque para isso tem de se ser bastante observador e isento o suficiente para não misturar sentimentos com os relatos do que se vai passando. Acho que sou observadora, mas parece que não é assim muito interessante, nem para mim, ir escrevendo sobre tudo o que vou vendo. É claro que num país estrangeiro se torna mais motivador porque são imagens que não conheço e que faz algum sentido guardar para relembrar no futuro.

Ainda assim, gosto muito mais de ir fazendo as minhas observações e filtrá-las com a minha personalidade. Sou mais eu. E gosto de escrever aqui por causa disso. É o meu espaço, onde estou sem rede.

Embora muitas vezes tenha a sensação que este blog só fala de mim, dos meus amigos, do que eu acho sobre isto ou aquilo, mas caramba, ia falar do quê?? Claro que há assuntos na atualidade que me interessam e penso em escrever sobre isso, mas muitas vezes não consigo pôr as ideias em ordem para escrever alguma coisa de jeito. Portanto, este blog parece-me assim uma espécie de diário de bordo, mas com muitas moods e opiniões à mistura. Não sei se gostam, mas eu gosto e gosto de vos ter por aí.

Quando pensei neste tema lembrei-me dum texto que escrevi na véspera do meu regresso a casa pelo Natal de 2005 (estava a viver cá nessa altura) e que retrata muito bem a nostalgia que às vezes sinto e que me é difícil pôr por escrito. Estes momentos de escrita no blog aqui na Alemanha sinto-os muito como a única maneira de manter a minha experiência intacta e possível de me causar imensa nostalgia quando daqui a uns anos reler isto. 

              hoje!

Era suposto estar exultante de alegria, mas sinto-me super triste e só me está a dar vontade de chorar! Quero voltar aos braços de quem me ama, de quem me dá carinho e miminhos, há tanto que quero dizer, há tanta coisa que quero ainda fazer, há tanto que ainda quero viver, mas está a apetecer-me mais enfiar-me bem debaixo dos lençóis e deixar as saudades levarem a melhor!
Eu estou feliz por voltar, claro que estou, mas tenho pensado e reflectido muito e não sei se sei quem sou, se estou a viver a vida que realmente quero, ou se já sei que vida é essa! Tenho saudades de tudo, do passado que já vivi, dos amigos que fiz, das coisas que já alcancei, dos amores que já tive (por pessoas e por coisas), de olhar para o meu país e sentir que pertenço a alguma parte. Também tenho saudades do que há-de vir, dos amigos que hei-de fazer, daquilo que hei-de realizar, dos planos que hei-de concretizar!
Sinto que aqui fica parte de mim, do meu ser, dos meus planos, da minha vida, das minhas saudades, das minhas angústias, dos meus problemas. Ninguém vai conseguir saber como me senti (acho que nem eu!), nem as alegrias que tive (por ter uma boa nota num teste, por fazer + um amigo, por conseguir falar em alemão, por ter pessoas com quem posso combinar jantares e passeios, por receber uma mensagem a dizer 'amo-te!', por receber uma carta a contar as news).
Não vou ficar para a posteridade, mas esta experiência é minha, só minha e não quero, nem consigo partilhar com ninguém, por mais que escreva e que tente contar tudo!
Estou nostálgica com a vida e apetece-me calar tudo o que me consome o peito (como se tivesse aqui alguém com quem falar!) e chorar, chorar, chorar!
Mas estou feliz! - Deve ser por isso que me apetece chorar!

(escrito com um nó na garganta e as lágrimas a empurrarem os meus olhos até desabarem!)

13 de Dezembro de 2005

É estranho sentir que, ao fim de anos e de tantas experiências, ainda me reveja em tanta coisa!